segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O CASARÃO ABANDONADO



Intrigava-me sempre passar por aquele casarão, com ar de nobreza. Tratava-se de construção do construtor grego, Nicola Levente, homem inteligente, criativo, nobre, que ao chegar da Grécia escolheu Cuiabá, Mato Grosso, para viver, apesar do sufocante calor. Ergueu inúmeras casas, porém aquela era diferente, cheia de rococós, sacadas redondas e pintada de rosa choque. Olhava-a e algo me passava pela cabeça. O que seria? Dona Aidinha revelou-me que nele morou há anos atrás uma família síria que por questão de receber uma herança retornou ao seu país. Nunca mais pisou em terra cuiabana. Curiosamente, ao passar por ali, a imaginação me levava a imaginar num navio fantasma à mercê das ondas do mar, naquele vai e vem.
Jamais lá, porém a analisava e tentava ver se alguém, um (a) morador (a) de rua buscasse abrigo em seu interior. Que nada! Nenhum sinal de vida surgiu para apaziguar meus pensamentos. Também não percebi nenhuma alma penada a debruçar-se sobre as sacadas.
Mas num sábado, ao voltar da escola, notei uma das janelas entreabertas e enquanto aguardava ver quem surgiria, alguns morcegos saíram voando e quase morri de medo. Tenho pavor desses bichos horrorosos!
Tudo passa e também esqueci o casarão vazio e abandonado.
Num dia qualquer, parei e vi estacionar em sua frente um carrão de marca nipônica. Desceu dele um homem que julguei ser árabe. Assemelhava-se muito ao Sr. Elias Haidamus, velho amigo, casado com dona Ivone, morador da rua 13 de junho, onde morei alguns anos. Era comerciante do ramo de tecidos. Impressionante como a nossa imaginação funciona, e pude rever seus filhos Elione, Marley, Ivany, Miguelito, Carlos, amigos de infância, a brincar de pegador, roda e até a brigar por causa de religião. Eram católicos e eu, presbiteriana.
Prestei atenção. Será que a família Haidamus voltou de S. Paulo, onde tem comércio no bairro Ipiranga, rua Bom Pastor? Por alguns minutos fiquei ali e até me disfarcei a brincar com um cachorro vira-lata, para não dar na vista. Esperei um desfecho. Um jovem de seus 21 anos, cabelos negros, feições árabes, de óculos escuros, entrou e após poucos minutos saiu, entrou no carro, deu partia e partiu a 120.
Talvez fosse neto do seu Elias, julguei. Podia ser até neto do Arafat, mas finalmente vi um ser humano entrar no casarão. Alegrei-me.
Meses depois, tristemente, vi a demolição da casa feita pelos operários e em seguida começaram que a construir um novo espigão de cimento armado. Finalmente, após quase um ano, vi o belo prédio de doze andares que tem o nome de Paraíso. Sinceramente, foi um dia sem nenhuma alegria para mim. Primeiro, porque Cuiabá é uma terra quentíssima e os prédios aprisionam o vento fresco e minha terra torna-se ainda mais abrasadora. Segundo, vi cair ao chão uma construção do querido Nicola Levente, sogro da minha grande e querida amiga, Maria Regina. Terceiro, desejava rever os Haidamus e alegrar-me com a volta da formidável família a Cuiabá. Como foi bela e trepidante a nossa infância!
Tudo não passou de mais um sonho!

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